quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

O Pequeno Professor





POR MELINA POCKRANDT* 

Lançada em 1943, a história de 0 Pequeno Príncipe tem atravessado gerações, encantando leitores de todas as idades. E um livro para ler, reler e sempre perceber novos detalhes. Em seus capítulos, a obra aborda valores universais que são essenciais para o bom convívio com outras pessoas, uma boa relação com o planeta em que vivemos e o caminho na busca pela felicidade. 

Para Renata Sturm, gerente editorial da HarperCollins Brasil, a mensagem viaja por várias culturas, gerações e idades. “Saint-Exupéry criou urna obra genial que mistura inspiração e literatura infantil. Uma obra profunda e sensível, que apreciamos Como criança, mas só a maturidade é capaz de trazer um entendimento completo a respeito” comenta. A editora publicou uma edição comemorativa, com tradução de Ferreira Gullar e muitos conteúdos extras (0 Pequeno Príncipe - Edição Comemorativa, HarperCollins) e também se dedicou a deixar a história mais Clara para as Crianças, O livro O Pequeno Príncipe para crianças pequenas (HarperCollius) chega às lojas em novembro e é destinado para atingir o público não-alfabetizado por meio da leitura dos cuidadores. 

Conta-se que o autor, o piloto francês Antoine de Saint-Exupéry, escreveu a obra nos Estados Unidos. Ele mudou para o pais em uma espécie de exílio voluntário, depois de se encontrar profundamente decepcionado com as derrotas da França na Segunda Guerra Mundial. Passou a servir a força aérea norte-americana, fazendo, voos de reconhecimento para os Aliados 


Ilustrador apaixonado, desenhava em qualquer pedaço de papel a que tivesse acesso. Muitos desses desenhos representavam um principezinho reconhecido pelos seus cabelos loiros e rebeldes — a quem Saint-Exupéry chamava de “o garoto que mora em meu coração”. Em 1940, editores de Nova Iorque questionaram: por que não escrever um livro com este personagem? 


Assim, O Pequeno Príncipe foi concebido, como um livro infantojuveni1 que acabou atingindo todas as faixas etárias. “Ele caiu nas graças de todo tipo de público por ter uma mensagem clara, bonita, universal, simples de ser entendida. Foi escrito para ser lido por crianças, mas acabou ganhando a simpatia e o amor de pessoas de todas as nacionalidades e de todas as idades", comenta Luiz Fernando Emediato, diretor da Geração Editorial. 

Para Gabriel Perissé, tradutor do livro publicado pela Autêntica (O Pequeno Príncipe, Autentica,) a obra ultrapassa o limite do tempo e está sempre atualizada. “Mais do que lições, O Pequeno Príncipe oferece una experiência de encontro, Entre o menino e o aviador, a relação de amor entre a rosa e o menino, entre o menino e a raposa, as figuras arquetípicas com as quais o viajante vai se encontrando. E é nesses encontros que o leitor se encontra. No meu caso, reler c traduzir este livro nessa altura da vida foi ver confirmada a ideia de que ninguém chega a ser alguém no meio da solidão. O reino que o Pequeno Príncipe quer fundar é o reino da amizade e da sensibilidade", comenta. 

Frei Betto, que traduziu a obra publicada pela Geração Editorial, aponta que, como um clássico, o livro tem algo pertinente a dizer sempre e deve ser revisitado sempre que possível. Entre as lições que mais marcaram sua vida, ele aponta: “as críticas à visão equivocada que muitos adultos têm das crianças, como se fossem imbecis". 

Além (de todas as lições que os leitores por geração têm extraído da história, a editora de livros infanto-juvenis da Autêntica, Sonia Junqueira, cita outra razão para ser considerado um Clássico: “O livro tem alta qualidade literária. Trata-se de uma obra emblemática, um ícone." 

Para estudiosos do autor, O Pequeno Príncipe não pode ser visto isoladamente. Ele faz parte de um momento que o escritor estava vivendo e se relaciona diretamente com outra publicação: Piloto de guerra: de 1942, O aviador solitário que encontra o principezinho no deserto é o mesmo que perdeu seus amigos em combate e está decepcionado pela derrota pessoal e coletiva retratado na outra obra. O Pequeno Príncipe é uma reflexão sobre a vida após a tragédia e traz muitos elementos autobiográficos. 

A primeira edição do livro saiu em 194-3, sendo que o autor recebeu suas cópias alguns dias antes de embarcar para a África do Sul, com tropas norte-americanas, para lutar pela Franga ocupada pelo exército alemão, mas jamais retornou aos Estados Unidos. 

Traduzida para mais de 250 idiomas, o livro ia vendeu mais de 130 milhões de Cópias em todo mundo. Ganhou diferentes edições e também adaptações ao cinema. O primeiro filme, de 1975, foi dirigido por Stanley Donen em uma produção conjunta entre EUA e Reino Unido. Ficou conhecido pela interpreta de Gene Wilder, como a raposa. 

O filme mais recente, a animação O Pequeno Príncipe, foi lançado em 2015. Nele a história original se mistura a vida de uma garota que é controlada pela mãe obsessiva. Em meio a estudos intermináveis, ela acaba conhecendo o seu vizinho, um senhor que procura de qualquer maneira encontrar um principezinho que vive no asteroide com sua rosa. 





SOBRE O AUTOR 

Antoine de Sant-Exupéry nasceu em Lyon, na Franca, em 29 de julho de 1900. Terceiro de cinco irmãos, perdeu seu pai aos 4 anos e for incentivado pela mãe a escrever Apaixonou-se Jovem pela aviação, na pré-adolescência, e buscou se tornar piloto - profissão muito difícil e ainda em seu início na época. Foi só aos 21 anos que e1e realizou seu sonho. Apaixonado por literatura e usando da sua experiência nos ares como matéria-prima para suas criações, Saint-Exupéry recebeu o apelido de “Poeta da aviação." Seus livros, como O aviador (1926) e Voo noturno (1931), são recheados de elementos autobiográficos e que apresentam questões pertinentes à dureza e à solidão da carreira de piloto nas décadas de 1920 e 1930. 

Mudou-se para os Estados Unidos durante a primeira fase da Segunda Guerra Mundia1, onde atuou como piloto da Forca Aérea, fazendo voos de reconhecimento para os Aliados. O autor morreu em 31de ju1ho de1944 em uma missão secreta na África. Os restos do avião foram achados somente depois do ano 2000 por um pescador. 



OS PERSONAGENS 

O Pequeno Príncipe: é o personagem central da história. Uma criança que não consegue entender por que os adultos são tão confusos. Ele mora em um asteroide e viaja pelo universo conhecendo diferentes personagens 

O piloto: é o narrador dessa história. Sobrevivente de um acidente no deserto, ouve as histórias do principezinho e reflete sobre sua própria vida. 

A raposa: ensina sobre a amizade, amor e a responsabilidade que as conquistas requerem de cada um de nós. 

A rosa: aquela que cativa o coração do principezinho e o faz refletir sobre o amor. Assim como todo ser humano. Tem características boas e más. 

A serpente: o primeiro personagem que o garoto encontra na terra, fa1a com franqueza e simboliza a morte. 

O rei: acha que domina todo o universo, mas na verdade só dá ordens a coisas que aconteciam mesmo que ele não mandasse. 

O bêbado: bebe porque está triste e fica triste porque bebe em um ciclo que desperta compaixão do principezinho. 

O homem de negócios: está tão envolvido em seus cálcu1os e no desejo de ficar rico que não consegue aproveitar a vida e quase não percebe a presença do garoto. 

O acendedor de lampiões: determinado e responsável em sua extenuante tarefa de acender e apagar o lampião a cada minuto em seu pequeno planeta. 

O geógrafo: um detentor do conhecimento de multos planetas - exceto de seu próprio. E1e que recomenda a visita do garoto à Terra 

O astrônomo: descobriu o asteroide em que o principezinho mora, mas ninguém ouviu sobre sua descoberta quando vestia as roupas típicas do seu pais. Precisou se adequar aos padrões ocidentais para que fosse valorizado. 

0 vaidoso: mora sozinho em seu planeta, mas precisa ser elogiado constantemente, por isso, pede que o Pequeno Príncipe diga que ele é o homem mais inteligente do planeta - mesmo que seja o único.

* Texto originalmente publicado em Ler&cia, Edição 77 Livraria Curitiba.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018




Incentivo à leitura

No país onde existem mais farmácias do que livrarias, qualquer iniciativa que estimule a leitura é bem vinda. Ás vezes deparamos com campanhas de incentivo à leitura, quase sempre pontuais e feitas por órgãos não governamentais ou em parcerias públicas ou privadas.

A iniciativa com mais destaque “hoje” é a da Fundação Itaú Social que faz campanha de incentivo à leitura para crianças, anualmente, com distribuição de livros. 

Gosto mais dos projetos de iniciativa popular, como por exemplo: “Esqueça um livro e espalhe conhecimento”, feita por voluntários de toda parte do Brasil que “esquecem” livros em lugares como: padarias, restaurantes, bancos dos parques e praças, pontos de ônibus, para-brisa dos carros, onde for melhor. Quem encontra, leva para casa e depois “esquece” também. E o conhecimento se espalha...

Bom! O que isso tem a ver com O Pequeno Príncipe?

Navegando pela internet, à procura de edições novas do O Pequeno Príncipe, encontrei um programa de incentivo à leitura interessante. 

Trata-se do “Pegaí – Leitura Grátis” uma iniciativa não governamental, criado em julho de 2013 na cidade de Ponta Grossa, Paraná, mantido por apaixonados por leitura e que acreditam que livros não podem ficar guardados nas estantes, privados de leitores.

Idealizado pelo professor universitário Idomar Augusto Cerutti, o objetivo da iniciativa é incentivar o hábito da leitura. Para isso, a proposta é receber doação de livros e colocá-los à disposição de novos leitores em locais públicos.

É só encontrar uma estante permanente, espalhadas pela cidade, pegar o título do seu gosto, levar para casa, ler e devolver nos pontos de coleta ao terminarem a leitura prazerosa. 

O que diferencia este projeto de outros que me encantou:

Eles editaram O Pequeno Príncipe por conta própria, uma edição extremamente cuidadosa, feita por pessoas capacitadas, de altíssimo nível cultural. A tradução magnífica feita pela professora Andréa Müller e sua aluna Janiffer Desselman, supera de longe as demais traduções que tenho lido.

E o trabalho não para por aí: os livros foram finalizados pelos restauradores do Hospital de Livros que funciona na Penitenciária Estadual de Ponta Grossa. Eles receberam as capas e os miolos e finalizaram os livros.

A ação faz parte do projeto de extensão do Hospital de Livros do Instituto Pegaí da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). 

Pela participação no workshop, os apenados receberam certificação da UEPG, o que também possibilita a diminuição de suas penas. 

O Pequeno Príncipe, que amo, mais uma vez, ultrapassa o limite da literatura e faz gerar amor.

Observação: sobre a finalização dos livros do Pequeno Príncipe no hospital de livros, nem todos os livros foram finalizados.
A tiragem foi de 5000 exemplares, A gráfica finalizou 4900
e 100 foram finalizados no Hospital de Livros.
O objetivo dessa ação foi inserir os restauradores nos processo de publicação, numa pequena parcela.
Tem 100 livros aqui em Ponta Grossa rodando, que tem uma etiqueta interna escrito: livro finalizado e acabado no Hospital de livros e tem o nome do detento que fez o trabalho.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018



Era o Pequeno Príncipe Vicentino*?


Pelo pouco que sei da biografia de Saint-Exupéry, ele era cristão. Sim. Foi batizado, fez a primeira comunhão e estudou com os irmãos maristas e com os padres jesuítas. Em carta à sua mãe, ele escreveu: "Acabo de ler um pouco da Bíblia. Os mandamentos que tomam bem umas 25 páginas são obras primas de conduta e bom senso. Por toda parte as leis da moral brilham em sua utilidade e beleza. Já leu os Provérbios de Salomão? E o Cântico dos Cânticos? Que beleza! Há de tudo neste livro, é comum encontrar ali um pensamento muito mais profundo e mais verdadeiro do que o dos autores que usam esse gênero por requinte. Já leu o Eclesiastes?" 

Uma segunda carta, dirigida a sua amada Consuelo, ele diz como ela deve rezar à noite: 

“Senhor, não vale a pena fatigar-vos demais...

Conservai-me apenas como sou. Pareço vaidosa nas pequenas coisas, mas nas grandes sou humilde. Pareço egoísta nas pequenas coisas, mas, nas grandes sou capaz de tudo dar, mesmo minha vida, pareço muitas vezes impura nas pequenas coisas, mas só me sinto feliz na pureza.

Senhor, conservai-me sempre igualzinha àquela que meu marido vê em mim.

Senhor, senhor, poupai a vida de meu marido, porque ele me ama verdadeiramente e que, sem ele eu me sentiria sozinha e órfã, mas fazei também senhor que de nós dois seja ele o primeiro a morrer, porque apesar de seu aspecto sólido e robusto, aflige-se muito quando não me ouve fazer barulho em casa, ainda que de vez em quando deva quebrar alguma coisa.

Ajudai-me a ser fiel e não me dar com aqueles a quem ele despreza ou que o detestam, isso bastaria para torna-lo infeliz, porque em mim ele fez a sua vida.

Protegei, senhor, nossa casa

Vossa Consuelo

Amém!”

Como todo ser pensante, Exupéry teve crise de fé. A época do eclipse da fé de Exupéry ocorreu no período compreendido entre a primeira e a segunda guerra mundial do século passado.

Até à época do seu acidente, Exupéry procurava um Deus que já havia encontrado na sua infância.

Acredito que a inspiração para escrever O Pequeno Príncipe, veio desta procura de reencontrar o Deus-menino, encarnado em Jesus Cristo, enviado pelo Pai como redentor do mundo.

Pesquisando bem, encontraremos em toda narrativa, ensinamentos que encontramos na Bíblia. 

Naquela mesma hora chegaram os discípulos ao pé de Jesus, dizendo: Quem é o maior no reino dos céus?

E Jesus, chamando um menino, o pôs no meio deles,

E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus.

Portanto, aquele que se tornar humilde como este menino, esse é o maior no reino dos céus.


Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.


O sétimo planeta visitado pelo pequeno príncipe, foi, a terra. Número sete é muito forte na tradição judaica cristã, simbolizando algo que está completando ou completo. A água simboliza a vida, e a água do poço é a mesma que Jesus oferece à mulher samaritana. A serpente simboliza Satanás, ao mordê-lo, significa a morte, lembra-nos Jesus: deu Sua vida para que o homem pudesse ser salvo. “Eu parecerei morrer, é assim, não venha ver." pode ser visto como uma parábola. Jesus dizendo aos seus discípulos sobre sua morte iminente e ressurreição. “Ao amanhecer, eu não conseguia encontrar o seu corpo" pode ser visto como uma lembrança do Jesus ressuscitado, os discípulos também não encontraram o seu corpo. Nas páginas do livro, a imagem de uma estrela no céu, acompanhado do texto "Foi aqui que o Pequeno Príncipe desceu à terra ..."nos lembra a Estrela de Belém no nascimento de Jesus. “E então, por favor, não me deixem tão triste, escreva-me depressa dizendo que ele voltou." Pode ser visto como à espera de Jesus voltar.

Por que disse tudo isso? Porque o pequeno príncipe seria vicentino?

Que ele era cristão eu não tenho dúvidas. Vicentino?

É sabido, que o livro já foi traduzido para várias línguas e dialetos, o objetivo das traduções para os dialetos, tem muita haver, com o objetivo de não deixar aquele dialeto morrer. É uma forma de ensiná-lo, usando um clássico da literatura.

Para mim é uma forma de “vicentinar”... ir aonde o pobre está. 

Recentemente comprarei um exemplar do Pequeno Príncipe em BARESE, dialeto falado em uma região da Itália. O autor desta tradução, Onofrio Caradonna, doou todo o seu trabalho de tradução e edição desta maravilha, para a missão de Xai Xai em Moçambique e até agora, conseguiu 3000 euros, com a venda do livro. Com este dinheiro, eles poderão apoiar quatro pessoas na universidade por um ano, ou pagar o salário de dois professores na escola. 

Isso aí não é ser vicentino?

E se analisarmos bem, vamos encontrar outras ações vicentinas do meu querido Pequeno Príncipe.

*Vicentino: Membro da Sociedade de São Vicente de Paulo.