sexta-feira, 5 de janeiro de 2018



Era o Pequeno Príncipe Vicentino*?


Pelo pouco que sei da biografia de Saint-Exupéry, ele era cristão. Sim. Foi batizado, fez a primeira comunhão e estudou com os irmãos maristas e com os padres jesuítas. Em carta à sua mãe, ele escreveu: "Acabo de ler um pouco da Bíblia. Os mandamentos que tomam bem umas 25 páginas são obras primas de conduta e bom senso. Por toda parte as leis da moral brilham em sua utilidade e beleza. Já leu os Provérbios de Salomão? E o Cântico dos Cânticos? Que beleza! Há de tudo neste livro, é comum encontrar ali um pensamento muito mais profundo e mais verdadeiro do que o dos autores que usam esse gênero por requinte. Já leu o Eclesiastes?" 

Uma segunda carta, dirigida a sua amada Consuelo, ele diz como ela deve rezar à noite: 

“Senhor, não vale a pena fatigar-vos demais...

Conservai-me apenas como sou. Pareço vaidosa nas pequenas coisas, mas nas grandes sou humilde. Pareço egoísta nas pequenas coisas, mas, nas grandes sou capaz de tudo dar, mesmo minha vida, pareço muitas vezes impura nas pequenas coisas, mas só me sinto feliz na pureza.

Senhor, conservai-me sempre igualzinha àquela que meu marido vê em mim.

Senhor, senhor, poupai a vida de meu marido, porque ele me ama verdadeiramente e que, sem ele eu me sentiria sozinha e órfã, mas fazei também senhor que de nós dois seja ele o primeiro a morrer, porque apesar de seu aspecto sólido e robusto, aflige-se muito quando não me ouve fazer barulho em casa, ainda que de vez em quando deva quebrar alguma coisa.

Ajudai-me a ser fiel e não me dar com aqueles a quem ele despreza ou que o detestam, isso bastaria para torna-lo infeliz, porque em mim ele fez a sua vida.

Protegei, senhor, nossa casa

Vossa Consuelo

Amém!”

Como todo ser pensante, Exupéry teve crise de fé. A época do eclipse da fé de Exupéry ocorreu no período compreendido entre a primeira e a segunda guerra mundial do século passado.

Até à época do seu acidente, Exupéry procurava um Deus que já havia encontrado na sua infância.

Acredito que a inspiração para escrever O Pequeno Príncipe, veio desta procura de reencontrar o Deus-menino, encarnado em Jesus Cristo, enviado pelo Pai como redentor do mundo.

Pesquisando bem, encontraremos em toda narrativa, ensinamentos que encontramos na Bíblia. 

Naquela mesma hora chegaram os discípulos ao pé de Jesus, dizendo: Quem é o maior no reino dos céus?

E Jesus, chamando um menino, o pôs no meio deles,

E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus.

Portanto, aquele que se tornar humilde como este menino, esse é o maior no reino dos céus.


Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.


O sétimo planeta visitado pelo pequeno príncipe, foi, a terra. Número sete é muito forte na tradição judaica cristã, simbolizando algo que está completando ou completo. A água simboliza a vida, e a água do poço é a mesma que Jesus oferece à mulher samaritana. A serpente simboliza Satanás, ao mordê-lo, significa a morte, lembra-nos Jesus: deu Sua vida para que o homem pudesse ser salvo. “Eu parecerei morrer, é assim, não venha ver." pode ser visto como uma parábola. Jesus dizendo aos seus discípulos sobre sua morte iminente e ressurreição. “Ao amanhecer, eu não conseguia encontrar o seu corpo" pode ser visto como uma lembrança do Jesus ressuscitado, os discípulos também não encontraram o seu corpo. Nas páginas do livro, a imagem de uma estrela no céu, acompanhado do texto "Foi aqui que o Pequeno Príncipe desceu à terra ..."nos lembra a Estrela de Belém no nascimento de Jesus. “E então, por favor, não me deixem tão triste, escreva-me depressa dizendo que ele voltou." Pode ser visto como à espera de Jesus voltar.

Por que disse tudo isso? Porque o pequeno príncipe seria vicentino?

Que ele era cristão eu não tenho dúvidas. Vicentino?

É sabido, que o livro já foi traduzido para várias línguas e dialetos, o objetivo das traduções para os dialetos, tem muita haver, com o objetivo de não deixar aquele dialeto morrer. É uma forma de ensiná-lo, usando um clássico da literatura.

Para mim é uma forma de “vicentinar”... ir aonde o pobre está. 

Recentemente comprarei um exemplar do Pequeno Príncipe em BARESE, dialeto falado em uma região da Itália. O autor desta tradução, Onofrio Caradonna, doou todo o seu trabalho de tradução e edição desta maravilha, para a missão de Xai Xai em Moçambique e até agora, conseguiu 3000 euros, com a venda do livro. Com este dinheiro, eles poderão apoiar quatro pessoas na universidade por um ano, ou pagar o salário de dois professores na escola. 

Isso aí não é ser vicentino?

E se analisarmos bem, vamos encontrar outras ações vicentinas do meu querido Pequeno Príncipe.

*Vicentino: Membro da Sociedade de São Vicente de Paulo.



2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Marcos,
Enviei-lhe um livro em português de Portugal. Espero que o tenha recebido (já foi há várias semanas). Enviei-o para a morada que me deu.
Se o recebeu, diga-me, por favor.
Cumprimentos
César

José Marcos Ramos disse...

Ainda não recebi.